Qualquer coisa de do
ce
de dor
amargando em entranhas
onde tudo
preenche
e nada sub-jaz
Qualquer coisa de só
lido
uma alma sem um
adoçando o que já não
tem
só -
lução
Qualquer coisa de amar
go
que não pediu
por favor
fez-se
sem deixar o medo de apodrecer
roubar-lhe o gosto
Qualquer coisa de acidez
Ah - se desvendasse
toda
a sensibilidade
insalubre
Qualquer coisa com
nada
de gosto
Gosto
dez
gosto
um pouco mais
a cada vez
que provoco
sem provar
Qualquer coisa
de nada
sem agradecer
pelo doce só
lido
com isso
sem gostar do
gosto.
Não posso esperar
ao mesmo tempo que
mal
posso
Quase consigo
sentir o som de
você
ecoando pelos corredores
Quase posso ouvir
a minha espera
chamando a presença
incerta, quase ausente
de qualquer objetividade
Das ondas sonoras
vibrando
sob as pedras mal
colocadas
do ambiente em que dividimos
- sem existir
divisão -
vários pedaços de possibilidade
O instante sem consentimento
em que igualmente
partimos
em fragmentos o ambiente
mesmo sem existir
Eis que o tempo
passa e,
eu
andante,
permaneço
parada
em espírito no mesmo lugar
Permaneço a fenecer
entre rostos
e braços
cabelos
e olhares
que
me enganam
e chamam
Substituem o espaço
em que posso sentir
você
ocupar
Ocupo quase todos
os espaços desses rostos
estranhos
Estou
do lado deles sem que haja
nada
de necessidade
da minha parte
E me parto
e deixo
os meus rastros de vontade
na vontade
que
você
os una
e encontre-me
Quando eu já não estiver
- visivelmente -
ao seu alcance.
(Samara Silvestre)
Aproximação. É mais ou menos como tudo começa (ou talvez onde) a fragmentar-se, um retalhar cheio de evidências ofuscadas pelo presencial, tátil e seja lá qual for o outro sentido envolvido nessa ausência de compreensão cronológica. Completamente atemporal. Simplesmente julgar-se-á como sendo um acontecimento sem provas de início ou o que quer que o limite ao vulgo real. O corpo menor do sistema solar chega mais perto e não vê necessidade de contratar alguém pra fazer a contagem dos minutos que já começaram a ser marcados por algo que não se pode medir. Mediação. Vai se dando conta de que ao colocar-se perto das nuances amareladas do que pensa ser sol somente se destrói. Se deixa tomar por certa sedução, errada, insegura das radiações. E tem consciência, mas não consegue estabelecer pausas, porque sabe que foi feito pra se difundir. Dilacera-se, se deixa roubar cada fragmento rochoso. E toma do sol toda a concretude, como se diminuísse seus minutos de estadia em um mundo desnecessário. Rouba-lhe o real pra entregar uma parte de si próprio que talvez nem valha tudo isso. Incerto. Não periódico. Só é visto uma única vez e fica. Fincam-se então memórias sólidas pelo tempo necessário que não existe. Um limiar entre a periodicidade e a extinção. Um pulsar que provavelmente acabará por desintegrar-se devido a teimosia de suas passagens muito próximas e freqüentes do intenso. E que talvez no fim das contas, se resuma a uma imensa atmosfera. Isolada, inconseqüente, independente das demais. Mas eu não sei contar.
E eu não pedi pra ninguém aceitar isso.
“Tome suas decisões como se fosse o último drink de toda a sua vida. Tome-as como quem se envenena e não espera socorro, como quem sabe que tem vergonha de se mostrar apavorado e receoso, mas que sabe que passar e deixar passar é preciso. O fato é que você sempre vai poder fazer só e somente por você, quem vier acompanhar não vai ser bem um lucro, vai ser um merecimento. ’’
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas foi nele que espelhou o céu. ’’
É sempre do mesmo modo. Invariável. Só o que muda são as formas, o rosto, o nível. Uma casa sempre será uma casa independente da grandiosidade. E essa vivenda vai acomodar, vai causar uma sensação confortavelmente projetada. Por sua vez, você não consegue não entrar, sente uma atração profunda por aquela casa e por todas as suas portas que portam um ''não sei o quê'', um sentido desconhecido, talvez naquela habitação nem sequer exista luz. Você entra sem exitar, porque o estranho te suplica cada vez mais um pouco de atenção, você se atira em cada cômodo daquele lugar, descobre quão bom é gozar de tamanho conforto alheio, de um hábitat que talvez nem lhe pertença um dia mas que estranhamente parece ter nascido junto com você, ter vindo do seu âmago. E em alguma parte não citada da narrativa vital eis que você é exonerado, jogado fora junto com o lixo doméstico da terça-feira à espera de um caminhão (ou seria um caminho?) Algo que te leve pra longe junto com desilusões, projetos mal acabados e aquela sensação amarga de café mal tomado causado pela pressa de querer atirar-se para um lugar sem casa, consequentemente sem muros e decisões involuntárias. Tudo isso amarrado em um saco plástico com você dentro. Então sai e diz pra si mesmo jamais entrar em outra porta sem permissão, ou melhor, jamais entrar em outra porta. E enquanto repete incessantemente essa promessa vai abrindo devagar a porta e entrando em mais uma casa: A sua, ou pelo menos a ''que fosse sua''.
“Aprenda: nenhuma das suas cicatrizes vai fazer alguém gostar menos de você. Nenhuma das suas cicatrizes vai fazer de você um ser menos humano ou mais fraco, porque o fracasso não é uma conseqüência e sim uma conquista. ’’'
Samara S.