domingo, 11 de dezembro de 2011 0 comentários

Gosto


Qualquer coisa de do
ce
de dor
amargando em entranhas
onde tudo
preenche
e nada sub-jaz

Qualquer coisa de só
lido
uma alma sem um
adoçando o que já não
tem
só -
lução

Qualquer coisa de amar
go
que não pediu
por favor
fez-se
sem deixar o medo de apodrecer
roubar-lhe o gosto

Qualquer coisa de acidez
Ah - se desvendasse
toda
a sensibilidade
insalubre

Qualquer coisa com
nada
de gosto

Gosto
dez
gosto
um pouco mais
a cada vez
que provoco
sem provar

Qualquer coisa
de nada
sem agradecer
pelo doce só
lido
com isso
sem gostar do
gosto.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011 0 comentários

Um lugar sem um


Não posso esperar
ao mesmo tempo que
mal
posso

Quase consigo
sentir o som de
você
ecoando pelos corredores
Quase posso ouvir
a minha espera
chamando a presença
incerta, quase ausente
de qualquer objetividade

Das ondas sonoras
vibrando
sob as pedras mal
colocadas
do ambiente em que dividimos
- sem existir
divisão -
vários pedaços de possibilidade

O instante sem consentimento
em que igualmente
partimos
em fragmentos o ambiente
mesmo sem existir

Eis que o tempo
passa e,
eu
andante,
permaneço
parada
em espírito no mesmo lugar

Permaneço a fenecer
entre rostos
e braços
cabelos
e olhares
que
me enganam
e chamam

Substituem o espaço
em que posso sentir
você
ocupar
Ocupo quase todos
os espaços desses rostos
estranhos
Estou
do lado deles sem que haja
nada
de necessidade
da minha parte

E me parto
e deixo
os meus rastros de vontade
na vontade
que
você
os una
e encontre-me
Quando eu já não estiver
- visivelmente -
ao seu alcance.

(Samara Silvestre)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011 0 comentários

Cometa

Aproximação. É mais ou menos como tudo começa (ou talvez onde) a fragmentar-se, um retalhar cheio de evidências ofuscadas pelo presencial, tátil e seja lá qual for o outro sentido envolvido nessa ausência de compreensão cronológica. Completamente atemporal. Simplesmente julgar-se-á como sendo um acontecimento sem provas de início ou o que quer que o limite ao vulgo real. O corpo menor do sistema solar chega mais perto e não vê necessidade de contratar alguém pra fazer a contagem dos minutos que já começaram a ser marcados por algo que não se pode medir. Mediação. Vai se dando conta de que ao colocar-se perto das nuances amareladas do que pensa ser sol somente se destrói. Se deixa tomar por certa sedução, errada, insegura das radiações. E tem consciência, mas não consegue estabelecer pausas, porque sabe que foi feito pra se difundir. Dilacera-se, se deixa roubar cada fragmento rochoso. E toma do sol toda a concretude, como se diminuísse seus minutos de estadia em um mundo desnecessário. Rouba-lhe o real pra entregar uma parte de si próprio que talvez nem valha tudo isso. Incerto. Não periódico. Só é visto uma única vez e fica. Fincam-se então memórias sólidas pelo tempo necessário que não existe. Um limiar entre a periodicidade e a extinção. Um pulsar que provavelmente acabará por desintegrar-se devido a teimosia de suas passagens muito próximas e freqüentes do intenso. E que talvez no fim das contas, se resuma a uma imensa atmosfera. Isolada, inconseqüente, independente das demais. Mas eu não sei contar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011 0 comentários

Lados

Não sei exatamente o que sinto. Ás vezes sou quase comparada a felicidade plena, mas ás vezes caio em uma tremenda indecisão que acaba levando tudo que é feliz em mim e deixando só as interrogações ininterruptas que parecem nunca cessar, chegam a ser tão longas que até se esquece a sua origem, se é que essa perplexidade teve o direito de possuir um começo, se é que essa indecisão não passava de algo que sempre existiu, algo nato, que tem medo de mostrar aquilo que realmente ocorre, uma inquietude que é semelhante a um garoto de 18 anos quando questionado pela professora a respeito do que ele é: ele não sabe responder porque não tem maturidade suficiente pra perceber que não é feito só de coisas lindas, duráveis, findáveis e eternas...Ou talvez ele tenha sim, desenvolvimento suficiente pra se considerar um enorme fracasso original, mas vergonha demais pra exteriorizar assim, de forma tão barata os seus retalhos. Provavelmente ele vê o mundo de uma forma completamente única, por isso ele possui expressões faciais assim, tão relevantes e pertubadoras. E eu de vez em quando gosto de ousar um pouco mais e dizer que esse menino, tão absurdamente estúpido em seus hábitos subtendidos, tão fascinante em sua capacidade de mudar de gosto e de ângulo a cada nova vez que olha pro velho acontecimento, pro idoso cotidiano em que se encontra, mora uma vez por dia em mim.

E eu não pedi pra ninguém aceitar isso.
segunda-feira, 25 de julho de 2011 1 comentários

Passar bem

Passar e deixar passar. Eis o que nos iguala e o que nos faz semelhantes em nossas ações nos oito ou nove cantos do mundo, naqueles cantos que entoam e emolduram toda a nossa alma e vão nos trazendo cada vez pra mais perto e pra mais longe, uma antítese que nos transforma em milhões de sentimentos, todo involuntários e nos restringe a medo. Porque passar e deixar passar gera um efeito de temer; receio, susto, medo, pavor, terror e tantas outras palavras similares que querem definitivamente explicar aquela sensação de embrulho no estomago só de imaginar que teremos que seguir em frente ou soltar algo que queríamos que estivesse sempre perto de nós, porque nós mesmos nos demos ao trabalho de transformar esse ‘‘algo’’ em um órgão do nosso próprio corpo só pra depois poder justificar a nossa ansiedade e a nossa burrice. É a gente acaba se intitulando ‘’burros’’ por tanto falar e falar e falar e depois agir de forma totalmente e completamente diferente, sendo incapazes de dominar nossos próprios pormenores. E quem disse que podemos dominar nossas partes? Só porque o nosso todo é maior do que cada pedaço que nos origina não quer dizer que cada um desses fatos que nos cercam, quando separados, vão ser insignificantes. Deixar passar um pedaço, uma época, é bem o contrário de insignificância, chegando a ser quase todo costurado de significados e de datas e de angústias e de vontades. Chegamos, conquistamos, vivenciamos, acreditamos, guardamos, planejamos, tatuamos e finalmente nos damos conta de que passamos. É, somos realmente incríveis não é mesmo? Não. Porque de nada adianta passar, se não deixar passar. De nada adianta ser um todo se o que se é de verdade é apenas uma parte, um pedaço. O todo é inteiramente, de modo total uma junção de milhões de contratos, e é preciso muito mais que um monte de verbos terminados em ‘’amos’’ para fazer da felicidade algo essencialmente real.

“Tome suas decisões como se fosse o último drink de toda a sua vida. Tome-as como quem se envenena e não espera socorro, como quem sabe que tem vergonha de se mostrar apavorado e receoso, mas que sabe que passar e deixar passar é preciso. O fato é que você sempre vai poder fazer só e somente por você, quem vier acompanhar não vai ser bem um lucro, vai ser um merecimento. ’’

domingo, 8 de maio de 2011 0 comentários

Sonho 200 milhas

Acordei com uma vontade de viajar, pra bem longe, pra onde nada além do vento pudesse alcançar os fios de cabelo que cobrem minha visão e me fazem enxergar só o que é necessário, só o que se faz importante e diferente, apenas aquilo que eu não conseguiria ver se estivesse dormindo em cima de mim mesma e negligenciando assim o que realmente eu sonho, o encanto de todas as cores modificadas pelos ângulos utilizados pelos olhos pra apreciar o mar. Eu acordo o mar, eu durmo o mar, eu sonho todas as suas águas tocando meu corpo devagar e convidando-me pra encarar uma imensidão desconhecida, como se eu fosse um barco velho, prestes a quebrar inteiro, mas estivesse feliz por saber que se me partisse em mil pedaços, esses pedaços seriam agora misturados aos mil céus que refletem no oceano, que refletem em mim mesma e no que eu sinto vontade de ser quando imagino centenas de ilhas que me esperam. Ilhas a milhas de distância, que não são nada quando comparadas a uma vida toda pra nadar e encontrá-las. Porque eu sou mar, no fundo, no fundo eu tenho muita riqueza aliada a territórios desconhecidos em busca de descobrimento. Descobrimento e Descoberta. Tudo muito coberto quando vou dormir, porque quando estou protegida pelos lençóis feitos de água eu aguardo tudo que me embrulha e assim guardo todo o pacífico em mim, afogo-me e morro pra metade da superfície terrestre.

“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas foi nele que espelhou o céu. ’’

domingo, 3 de abril de 2011 1 comentários

Casa


É sempre do mesmo modo. Invariável. Só o que muda são as formas, o rosto, o nível. Uma casa sempre será uma casa independente da grandiosidade. E essa vivenda vai acomodar, vai causar uma sensação confortavelmente projetada. Por sua vez, você não consegue não entrar, sente uma atração profunda por aquela casa e por todas as suas portas que portam um ''não sei o quê'', um sentido desconhecido, talvez naquela habitação nem sequer exista luz. Você entra sem exitar, porque o estranho te suplica cada vez mais um pouco de atenção, você se atira em cada cômodo daquele lugar, descobre quão bom é gozar de tamanho conforto alheio, de um hábitat que talvez nem lhe pertença um dia mas que estranhamente parece ter nascido junto com você, ter vindo do seu âmago. E em alguma parte não citada da narrativa vital eis que você é exonerado, jogado fora junto com o lixo doméstico da terça-feira à espera de um caminhão (ou seria um caminho?) Algo que te leve pra longe junto com desilusões, projetos mal acabados e aquela sensação amarga de café mal tomado causado pela pressa de querer atirar-se para um lugar sem casa, consequentemente sem muros e decisões involuntárias. Tudo isso amarrado em um saco plástico com você dentro. Então sai e diz pra si mesmo jamais entrar em outra porta sem permissão, ou melhor, jamais entrar em outra porta. E enquanto repete incessantemente essa promessa vai abrindo devagar a porta e entrando em mais uma casa: A sua, ou pelo menos a ''que fosse sua''.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011 7 comentários

Bom Proveito

Deixa eu curtir minha raiva, deixa. Ela agora é o meu legado, mas só agora. Entra, invade, absorve todos os meus sentidos e não me faz pensar em mais nada porque a vontade transpõe o pensar e põe em xeque os meus desejos reprimidos, derrubados, frustrados. Alego então ter essa ira passageira dentro de mim, só pra não perder o espírito racional e não sonhador tão apregoado nos quatro cantos da mente. Mentira seria deixá-la passar, movê-la pro subconsciente e depois se esquecer de jogar fora, passando assim, dias e dias até criar fungos e extravasar pela pele, que já tem feridas demais pra se dar ao luxo de andar entregando-se assim pra qualquer fúria. Pelo menos a deixando ir de vez depois de duas ou três ou cinco semanas (ou seriam séculos?) livro-me desse filme que ainda nem começou e eu já posso imaginar o final. Então deixa criar outro fim, aproveitar o escuro de mim sem ter vergonha de provar que eu também sou sujeita a mudanças, embora nunca esteja á venda.


“Aprenda: nenhuma das suas cicatrizes vai fazer alguém gostar menos de você. Nenhuma das suas cicatrizes vai fazer
de você um ser menos humano ou mais fraco, porque o fracasso não é uma conseqüência e sim uma conquista. ’’'

Samara S.

 
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