quarta-feira, 23 de novembro de 2011 0 comentários

Um lugar sem um


Não posso esperar
ao mesmo tempo que
mal
posso

Quase consigo
sentir o som de
você
ecoando pelos corredores
Quase posso ouvir
a minha espera
chamando a presença
incerta, quase ausente
de qualquer objetividade

Das ondas sonoras
vibrando
sob as pedras mal
colocadas
do ambiente em que dividimos
- sem existir
divisão -
vários pedaços de possibilidade

O instante sem consentimento
em que igualmente
partimos
em fragmentos o ambiente
mesmo sem existir

Eis que o tempo
passa e,
eu
andante,
permaneço
parada
em espírito no mesmo lugar

Permaneço a fenecer
entre rostos
e braços
cabelos
e olhares
que
me enganam
e chamam

Substituem o espaço
em que posso sentir
você
ocupar
Ocupo quase todos
os espaços desses rostos
estranhos
Estou
do lado deles sem que haja
nada
de necessidade
da minha parte

E me parto
e deixo
os meus rastros de vontade
na vontade
que
você
os una
e encontre-me
Quando eu já não estiver
- visivelmente -
ao seu alcance.

(Samara Silvestre)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011 0 comentários

Cometa

Aproximação. É mais ou menos como tudo começa (ou talvez onde) a fragmentar-se, um retalhar cheio de evidências ofuscadas pelo presencial, tátil e seja lá qual for o outro sentido envolvido nessa ausência de compreensão cronológica. Completamente atemporal. Simplesmente julgar-se-á como sendo um acontecimento sem provas de início ou o que quer que o limite ao vulgo real. O corpo menor do sistema solar chega mais perto e não vê necessidade de contratar alguém pra fazer a contagem dos minutos que já começaram a ser marcados por algo que não se pode medir. Mediação. Vai se dando conta de que ao colocar-se perto das nuances amareladas do que pensa ser sol somente se destrói. Se deixa tomar por certa sedução, errada, insegura das radiações. E tem consciência, mas não consegue estabelecer pausas, porque sabe que foi feito pra se difundir. Dilacera-se, se deixa roubar cada fragmento rochoso. E toma do sol toda a concretude, como se diminuísse seus minutos de estadia em um mundo desnecessário. Rouba-lhe o real pra entregar uma parte de si próprio que talvez nem valha tudo isso. Incerto. Não periódico. Só é visto uma única vez e fica. Fincam-se então memórias sólidas pelo tempo necessário que não existe. Um limiar entre a periodicidade e a extinção. Um pulsar que provavelmente acabará por desintegrar-se devido a teimosia de suas passagens muito próximas e freqüentes do intenso. E que talvez no fim das contas, se resuma a uma imensa atmosfera. Isolada, inconseqüente, independente das demais. Mas eu não sei contar.

 
;