sábado, 25 de dezembro de 2010 3 comentários

Desejo intenso e vivo


Talvez você quisesse um pouco de sorvete hoje. Um pouco de atenção preparada com açúcar e congelada sob forma de neve que fizesse você sentir uma segurança, um alívio de quem possui algo pra apoiar-se. O fato é que em algum momento da vida todo mundo busca ser considerável. Externamente considerável, intrinsecamente considerável. E no meio de tantas considerações é preciso certo cuidado pra não se desconsiderar, colocando-se em segundo plano e planejando o inexistente, o ilusório. Isso não quer dizer que se deve deixar os sonhos guardados em uma ilha sem valimento para que eles em algum momento evaporem junto as águas marítimas, até porque o valor que possuímos enquanto adormecemos está guardado dentro de nossos mais profundos devaneios. Mas é preciso distinguir aquilo que delicadamente se forma no espírito e mostra imagens desconexas, confusas, que num projeto real nunca será possível de acontecer daquilo que se mostra diante de nós todos os dias, daquilo que mesmo desajeitado e ás vezes triste é o fato mais sincero, mais puro e que por mais que cause certo desconforto é, neste exato momento, o que nos prova – amargamente ou não – que estamos vivos.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010 4 comentários

A sós.


Na maioria das vezes o começo é o mais fácil de explicar. As coisas vão tornando-se complexas à medida que as descobertas são mais nítidas, mais consistentes e exigem de nós certo cuidado, certa discrição. O fato é que isso ocorre na maioria das vezes e não sempre. E hoje, é um dos dias que escapa a regra do convencional, tornando o começo difícil, afastando a linha de partida do racional, daquilo que é mais cômodo e carrega consigo a segurança monótona de tempo durante o qual o sol alumia o horizonte. Uma estratégica mudança de meio. Meio estranha. Meio cheia demais que tomou conta de alguma coisa dentro do meu corpo e fez questão de anunciar que não iria mais embora, que ficaria pra tornar-me sozinha em dois. E não foi preciso mais do que dois dias para eu dar-me conta que esse acontecimento me fez bem, talvez uma satisfação que eu não me permitiria conhecer se não tivesse sido puramente surpreendida em algumas horas da madrugada, ou seria da noite? Na verdade, momentos incomuns como estes são deveras chamativos para serem analisados cronologicamente. Lógica é última ciência que passa pelos sentidos quando sentimos a presença solitária do conjunto, de algo (ou alguém) que não permite limitações de minutos quando o que se quer é ouvir uma voz (mesmo que um pouco cansada) e não faz distinção entre momentos bons e tortuosos porque simplesmente os desconhece quando observa através de outros olhos. Uma visão solitária que agora também é sua e que não precisa da observação do mundo inteiro pra ser real. Livremente real. Inocentemente pura e real.


“ Sempre me senti sozinha, mesmo entre vários, centenas, milhares de seres humanos. É como se uma camada furta-cor me impedisse de mostrar as cores tímidas do meu ser, pra ser sincera esse desvio de luz que tocava meu corpo opaco sempre foi uma forma de proteção que me fazia aparentemente melhor. Eu continuo assim, o que realmente mudou foi que enfim eu consegui enxergar o espelho por onde todos os raios, em algum momento, sempre me tocam. Um espelho tão solitário quanto eu, e mais incrível do que eu poderia imaginar.’’

 
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