Como explicar essa minha obsessão? É, obsessão, a palavra
que eu passei mais ou menos 9 meses pra descobrir a definição, digamos, literal
(ou seria física?). Um pulsar dentro de mim, pelos corredores em que as minhas
veias se confundiam com os produtos do supermercado e cada vez mais cansada do
fedor que as lembranças exalavam junto com cheiro forte de tantos sabonetes que
eu colocava no carrinho pra levar pra casa. Jhonson, Lux, Nivea, Protex,
quantas marcas? São tantas que eu já possuo dentro de mim que é quase difícil
decorar as dos produtos, são tantas que eu me martirizo a lembrar desde que
você se foi que eu também me confundo com um produto, o resultado da nossa
“história”, mas assim como o seu cheiro, tem aquela que eu não sou capaz de
esquecer: Phebo. Marcos Santiago foi mesmo inteligente, deixou nuances da nossa
história desde a década de 30, porque, convenhamos, o coitado não sabia que
acabara de inventar o aroma da nossa, da tua, existência em mim. O cheiro da
nossa insanidade em se querer o tempo todo desmedidamente, o cheiro teu que
fica em mim quando eu me vou, o cheiro que me faz lembrar o tanto que eu
reclamo da tua mania em deixar sempre a tampa do vaso levantada enquanto guarda
a tua escova no mesmo ambiente. Onde me
guarda e me esconde ao mesmo tempo. Mas não reclamo. Já me mostrastes demais,
já me mostrastes ao mundo e ele a mim. Então vem tomar mais um banho enquanto
eu uso o sabonete como desculpa pra te levar pra casa, mesmo que seja em
cheiro.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
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RESÍDUOS SÓLIDOS DE UM PASSADO LÍQUIDO – PRIMEIRA PARTE
Tento inutilmente desfazer todas as promessas que fizemos
juntos e sou levada por uma insistência atemporal ao desejo de cumpri-las
sozinhas. Me recordo constantemente das vezes que você e eu, ou melhor, nós –
já que nunca éramos vistos como dois pronomes – íamos a praia mais suja da
cidade com a certeza de que qualquer canto seria como o último lugar para
reiterarmos a nossa junção absoluta de entrega. Juntávamos promessas, listas,
compras e tudo o mais que coubesse dentro da sua sacola ecológica. Preservávamos
assim a natureza do nosso amor em todos os espaços. O caminho, a ida até o meio
oceânico de todos os fins de semana, sempre era para mim, como uma nova
aventura é para uma criança presa. Soltos, meus cabelos embaçavam a minha visão
e constantemente você os segurava, me ajudava a perceber que o mundo inteiro
estava em segundo plano quando eu fotograva o seu olhar de vontade em ser só
segurança, a sua necessidade em prender qualquer coisa que pudesse pular para
fora dos nós. A minha caminhada sempre se tornava o nosso enlace. Eis que em 20
ou 25 minutos o momento mais complicado sempre chegava: a ladeira. Era ela que
me fazia lembrar que existiam dificuldades antes de você, me acordava só pra me
tirar do sonho que a tua presença depositou em minha cabeça, um ponto íngreme dentro
de um coração tão cheio como o meu que havia perdido a capacidade de enxergar
qualquer coisa de ingratidão no mundo. O desconforto de saber que existia algo
mais alto do que o céu em que eu me encontrava quando em teus braços. Subíamos
tentando salvar um ao outro, tirando as coisas que mais pesavam e desnudando
nossos limites. Juntos, sempre conseguíamos. Nunca nos arrependíamos de nada
que era preciso abandonar. Porque tínhamos tudo: um ao outro.
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