domingo, 3 de abril de 2011 1 comentários

Casa


É sempre do mesmo modo. Invariável. Só o que muda são as formas, o rosto, o nível. Uma casa sempre será uma casa independente da grandiosidade. E essa vivenda vai acomodar, vai causar uma sensação confortavelmente projetada. Por sua vez, você não consegue não entrar, sente uma atração profunda por aquela casa e por todas as suas portas que portam um ''não sei o quê'', um sentido desconhecido, talvez naquela habitação nem sequer exista luz. Você entra sem exitar, porque o estranho te suplica cada vez mais um pouco de atenção, você se atira em cada cômodo daquele lugar, descobre quão bom é gozar de tamanho conforto alheio, de um hábitat que talvez nem lhe pertença um dia mas que estranhamente parece ter nascido junto com você, ter vindo do seu âmago. E em alguma parte não citada da narrativa vital eis que você é exonerado, jogado fora junto com o lixo doméstico da terça-feira à espera de um caminhão (ou seria um caminho?) Algo que te leve pra longe junto com desilusões, projetos mal acabados e aquela sensação amarga de café mal tomado causado pela pressa de querer atirar-se para um lugar sem casa, consequentemente sem muros e decisões involuntárias. Tudo isso amarrado em um saco plástico com você dentro. Então sai e diz pra si mesmo jamais entrar em outra porta sem permissão, ou melhor, jamais entrar em outra porta. E enquanto repete incessantemente essa promessa vai abrindo devagar a porta e entrando em mais uma casa: A sua, ou pelo menos a ''que fosse sua''.
 
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