quarta-feira, 14 de janeiro de 2015 0 comentários

Viagem

Saindo deste plano
destes projetos maquiados
(des)mascarados
Eternas promessas etéreas
Ingênuas na temperatura ambiente
de quando passa a paixão
Amores reduzidos a vapor
Sufocam alguém na cozinha em algum lugar do mundo
Este momento
Ex-vaindo,
Eis que se vão
Perdem a forma no sutil insistir em ficar
E deixam
Incorpóreos pedaços que mantém
- na insalubridade do egoísmo -
A lembrança da pele macia,
Deletério que se leva na eterna bagagem
das coisas que não se esquece.
sábado, 6 de dezembro de 2014 0 comentários

Pra não dizer teu nome em vão

Pra não dizer teu nome em vão
Me lanço ao inferno, feito Ícaro
Asas fabricadas de mágoa e cera
esperançadas através de olhos de suor
que agarram e se lançam para a indecifrável 
centralidade divina de tua íris,
Oceânica

Elo perfeito entre a terra e o céu
Tudo que és me joga ao abismo
Ao pertencimento de lugar nenhum
Não me situo em teus dias frágeis
em teus laços frouxos, sem cor
Sem lados

Vasculho o vento de tuas profecias baratas
Ascendo em massas cruéis, me sinto em faíscas,
Em chamas que chamam em todos os cantos por tua
manifesta voz
Por tuas velhas memórias cinzas,
Pelo suave penar em me fazer celeste,
em me trazer de volta as delicadas asas douradas
Dobradas
que hoje repousam entre minhas dolorosas mãos de bronze,
Lembranças de ferro

Quando me atiro, é
Metálico
O sabor barato entre os teus lábios
Essa é a lembrança mais clara
e suja
dos dias desérticos que me oferecestes
dentro dessas águas que pesam
minha consciência envolta por penas
Espírito livre afogado
Pela tua abstração.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014 0 comentários

Phebo

Como explicar essa minha obsessão? É, obsessão, a palavra que eu passei mais ou menos 9 meses pra descobrir a definição, digamos, literal (ou seria física?). Um pulsar dentro de mim, pelos corredores em que as minhas veias se confundiam com os produtos do supermercado e cada vez mais cansada do fedor que as lembranças exalavam junto com cheiro forte de tantos sabonetes que eu colocava no carrinho pra levar pra casa. Jhonson, Lux, Nivea, Protex, quantas marcas? São tantas que eu já possuo dentro de mim que é quase difícil decorar as dos produtos, são tantas que eu me martirizo a lembrar desde que você se foi que eu também me confundo com um produto, o resultado da nossa “história”, mas assim como o seu cheiro, tem aquela que eu não sou capaz de esquecer: Phebo. Marcos Santiago foi mesmo inteligente, deixou nuances da nossa história desde a década de 30, porque, convenhamos, o coitado não sabia que acabara de inventar o aroma da nossa, da tua, existência em mim. O cheiro da nossa insanidade em se querer o tempo todo desmedidamente, o cheiro teu que fica em mim quando eu me vou, o cheiro que me faz lembrar o tanto que eu reclamo da tua mania em deixar sempre a tampa do vaso levantada enquanto guarda a tua escova no mesmo ambiente.  Onde me guarda e me esconde ao mesmo tempo. Mas não reclamo. Já me mostrastes demais, já me mostrastes ao mundo e ele a mim. Então vem tomar mais um banho enquanto eu uso o sabonete como desculpa pra te levar pra casa, mesmo que seja em cheiro.  
quarta-feira, 5 de novembro de 2014 0 comentários

RESÍDUOS SÓLIDOS DE UM PASSADO LÍQUIDO – PRIMEIRA PARTE





Tento inutilmente desfazer todas as promessas que fizemos juntos e sou levada por uma insistência atemporal ao desejo de cumpri-las sozinhas. Me recordo constantemente das vezes que você e eu, ou melhor, nós – já que nunca éramos vistos como dois pronomes – íamos a praia mais suja da cidade com a certeza de que qualquer canto seria como o último lugar para reiterarmos a nossa junção absoluta de entrega. Juntávamos promessas, listas, compras e tudo o mais que coubesse dentro da sua sacola ecológica. Preservávamos assim a natureza do nosso amor em todos os espaços. O caminho, a ida até o meio oceânico de todos os fins de semana, sempre era para mim, como uma nova aventura é para uma criança presa. Soltos, meus cabelos embaçavam a minha visão e constantemente você os segurava, me ajudava a perceber que o mundo inteiro estava em segundo plano quando eu fotograva o seu olhar de vontade em ser só segurança, a sua necessidade em prender qualquer coisa que pudesse pular para fora dos nós. A minha caminhada sempre se tornava o nosso enlace. Eis que em 20 ou 25 minutos o momento mais complicado sempre chegava: a ladeira. Era ela que me fazia lembrar que existiam dificuldades antes de você, me acordava só pra me tirar do sonho que a tua presença depositou em minha cabeça, um ponto íngreme dentro de um coração tão cheio como o meu que havia perdido a capacidade de enxergar qualquer coisa de ingratidão no mundo. O desconforto de saber que existia algo mais alto do que o céu em que eu me encontrava quando em teus braços. Subíamos tentando salvar um ao outro, tirando as coisas que mais pesavam e desnudando nossos limites. Juntos, sempre conseguíamos. Nunca nos arrependíamos de nada que era preciso abandonar. Porque tínhamos tudo: um ao outro.   
quinta-feira, 5 de junho de 2014 0 comentários

Nossa história mal
Resolvida
Resolvo mal
Mal resolvo ir
E volto

Ah quem me dera,
Por favor me dê
Um revólver
Qualquer
E eu revolvo
Tudo de único
De história
Mal de você
Que existe em mim.
quinta-feira, 10 de abril de 2014 0 comentários

Acrópole


At the next time
não esqueça de falar no mesmo idioma
e mesmo que o eu te amo já não seja
I love you
Pictore-o
Afinal de contas 4 horas do seu dia
são maquiadas pelo seu cérebro

Então
gaste-as comigo, afogue-as
a falta que isso vai fazer
não se compara ao vazio de tudo
que você deixa por fazer
enquanto se
desgasta

Quando em seu sono me adormece
entre orgasmos e espantos
se vê só desejo
em meio a escuridão
20 watts de impotência
é muito ou tudo
pra seguir sozinho


Leve-me, no pensamento analítico
Na ponta dos pés, cautele-me
Me deixe ser o refúgio opcional
enquanto espera pelo pessimismo
de se encaixar em um não lugar


Sussurre-me quando lembrar
que eu não posso esquecer de trazer
da próxima vez
Uma acrópole pra projetar em tuas curvas
de evidências contrárias
às marcas deixadas em nós
Desate-me


Samara Silvestre
segunda-feira, 2 de setembro de 2013 1 comentários

Efusividade Térmica

Quanta energia somos capazes de absorver? Expandindo nossa matéria nos 9 cantos atmosféricos em busca de plenitude, de consolo, de conforto ou simplesmente em busca de prazeres momentâneos confundidos com felicidade eterna. Carregando um ciclo espontâneo e inquebrável que impede – mesmo que de maneira frágil – a dor e a delícia da iluminação. O fato é que cada pedaço de organismo carrega consigo o peso da compreensão de suas energias, o peso de saber onde estão e de saber encará-las e obtê-las. Individualmente somos levados a propagar nossos resquícios de calor através de áreas infinitas, por vezes desconhecidas e sombrias. Um corpo que clama e suplica para escapar da resistividade, que é privado de conhecer toda a potencialidade da magia que emerge e emerge e emerge e emerge de cada um de seus poros. Uma energia vital, inequívoca que não se limita ou se deixa aprisionar mesmo com toda a repressão. Aquilo que nos distingue e nos une ao mesmo tempo em uma eterna transformação psíquica que faz e refaz milhões de novos “nós” a cada milésimo de segundo. Granito e Madeira: um paradoxo de sinestesias que encontram a energia comum em uma sequência de toques. Que não precisam de condicionamento para proporcionar mudanças e trocas de temperatura. Corpos que oscilam e que se bastam e se satisfazem. Que por meio do cheiro, do sentido, da voz e da imagem inventam e criam o que querem: Eles mesmos.
 
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