sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ocaso

Talvez a falta de pecado seja tua, que não me deixa perecer envolta de minha própria imensidão, que me enxerga na ausência de luz e de sentidos, sentindo em mim um nada que tudo ilumina, que observa a construção de um novo disco a medida que me propago, que nenhum som emite mas ressignifica todas as partes do que achas que é de teu pertencimento. E é nesse processo de desprendimento que tu me pertences. Quando és só degustação. Enquanto te afogas em meus mitos difusos, eu, deusa da imaginação, dou prazer aos teus anseios e te liberto e te prendo em mim. Um ciclo que não permite interrupções, uma liberdade ensaiada que te abriga na escuridão e te limita a visões enevoadas que te impossibilitam ver minha forma. Procurando-me, de um jeito falho, em organismos trêmulos e abstratos, em gostos exóticos e idealizações baratas, você me perde. Desesperado por uma matéria transvestida do meu negro escudo você se parte. Fragmenta-se dentro dos meus olhos que não podem ser vistos. Olhos densos de plenitude que fazem parte do que antes era você. Eleva-te e descobre, enfim, que ao juntar teus fragmentos te transformas verdadeiramente no que és: Nós. Pois é o que sou, minha matéria bruta é feita do que tu não podes ver exatamente porque tu és.

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